Explorando a riqueza cultural e histórica de Almería, uma cidade às margens do Mediterrâneo.
Me lembro bem de que no dia do nosso casamento fizemos uma série de promessas de cumprimento obrigatório. Além de nos amarmos incondicionalmente e cuidarmos um do outro, nos comprometemos a celebrar cada aniversário viajando. Pensamos que não havia melhor maneira de comemorar um dia tão especial do que fazendo o que mais gostamos, escapando e conhecendo novos lugares. No entanto, a vida, às vezes, é caprichosa e nem sempre permite cumprir certos propósitos. A falta de recursos financeiros e de tempo, somada a uma pandemia mundial, atrasou nossa proposta, nada mais, nada menos, do que oito anos. Superadas as contrariedades, finalmente as condições ideais surgiram para empreender uma nova aventura. Desta vez, decidimos descobrir Almeria, cidade mediterrânea localizada no sudeste andaluz.
Entre as muitas virtudes que se podem atribuir à Espanha, está a de ser um país extremamente rico em história e cultura. Um distintivo que Almeria também compartilha. A cidade foi testemunha de episódios tão marcantes como o assentamento muçulmano na Península Ibérica, o florescimento do Renascimento espanhol, o desenvolvimento industrial do início do século XX ou a Guerra Civil Espanhola. Marcos históricos que deixaram sua marca na cidade por meio de construções de grande valor histórico-artístico, como a Alcazaba, a Catedral da Encarnação, o Cable Inglês e os Refúgios da Guerra Civil Espanhola. Manifestações louváveis a partir das quais decidimos estruturar nossa viagem.
Respeitando a cronologia dos eventos históricos, o primeiro local que visitamos foi o Conjunto Monumental da Alcazaba de Almeria. Construída por Abderramán III no século X, a fortificação é composta por três áreas independentes. Os dois primeiros correspondem ao período muçulmano, enquanto o terceiro foi erguido após a conquista dos Reis Católicos em 1489.
Dentro dessa configuração tripartida, no primeiro dos espaços, podemos encontrar áreas ajardinadas e cisternas da época. O segundo, por sua vez, abrigava a residência palaciana do rei Almotacín, datada do século XI. O último, já da época cristã, abriga um castelo defensivo guardado por três torres: Torre do Homenagem, Torre da Nória e Torre da Pólvora. Atualmente, a fortaleza continua sujeita a estudos arqueológicos, o que não impede a realização de atividades culturais ao ar livre, como concertos ou apresentação infantis.
Depois de trocarmos algumas impressões sobre a Alcazaba de Almeria, fomos à Catedral da Encarnação. Localizada no centro histórico, ela guarda algumas semelhanças com a de Málaga. Primeiramente, ambas são consagradas sob a invocação de Santa Maria da Encarnação. Da mesma forma, foram projetadas pelo mesmo arquiteto: Diego de Siloé, um dos nomes proeminentes da arquitetura espanhola do século XV.
Essencialmente renascentistas, ambas as catedrais são organizadas com base em uma planta basilical composta por três naves e um deambulatório em forma de cabeceira. No entanto, a principal diferença está em sua configuração, sendo a catedral de Almeria construída como uma igreja-fortaleza. Essa característica pode ser observada em elementos notáveis como a torre-campanário.
Ao contrário de outras viagens, desta vez tínhamos apenas dois dias para conhecer uma cidade que se tornava mais atraente à medida que percorríamos suas ruas. Como se fosse uma viagem no tempo, dedicamos o segundo dia a visitar lugares com referências históricas mais próximas de nossos dias. Foi o caso do Cable Inglés, uma pitoresca estrutura de carregamento localizada na praia de Las Almadrabillas.
Espanha, ao contrário de outros países europeus, não passou por um processo de industrialização até bem entrado o século XIX. Nesse contexto de florescimento, muitas empresas estrangeiras acabaram se estabelecendo em nosso país. Uma delas foi a The Alquife Mines and Railway Company Limited, dedicada à extração de ferro na localidade de Alquife, na província de Granada.
Com a intenção de abandonar os sistemas de carga rudimentares e reduzir gastos desnecessários, a empresa construiu uma estrutura de carregamento de minério conhecida como cais El Alquife. Uma obra majestosa de engenharia que empregou técnicas avançadas em madeira e ferro. Construída entre 1902 e 1904, é um excelente exemplo da arquitetura de ferro do início do século XX.
A estrutura em si é composta por duas partes: o acesso que conecta a estação ferroviária ao cais onde o minério era descarregado para o porão das embarcações. Como curiosidade, ressaltar que esta obra não é conhecida pelo seu nome original. Por ser uma empresa inglesa a responsável por sua construção, os almerienses o rebatizaram com o nome de Cable Inglés. Embora atualmente esteja desativado, sua transformação em um mirante oferece uma das vistas mais impressionantes da costa de Almeria. Um local magnífico para contemplar o pôr do sol.
De volta ao centro histórico, decidimos finalizar nosso itinerário nos Refúgios da Guerra Civil Espanhola. Projetados pelo arquiteto Guillermo Langle Rubio, sua principal função era salvaguardar as vidas de seus compatriotas.
Apesar de ser um conflito nacional, várias potências estrangeiras acabaram participando da Guerra Civil Espanhola. Sem dúvida, uma das intervenções mais conhecidas é o bombardeio de Guernica pelas mãos do exército alemão. Um episódio que deu nome à famosa obra de Picasso e que representa os horrores da guerra.
Infelizmente, essa não seria a única incursão do exército da Alemanha Nazista em território espanhol. Embora Almería não tenha se envolvido diretamente no conflito, isso não a impediu de ser atacada de maneira implacável. A Alemanha Nazista concentrou seus ataques em alvos militares e civis. Especialmente sangrento foi o bombardeio de 31 de maio de 1937. Naquele dia, 40 pessoas perderam a vida e mais de 150 ficaram feridas. Sob essa ameaça, o povo de Almería decidiu criar uma série de abrigos subterrâneos para proteger a população. Suas galerias, a 9 metros de profundidade, totalizam 4,5 quilômetros. Dada a extrema gravidade das circunstâncias, foram providos de despensas e até mesmo de uma sala de cirurgia.
Nunca esquecerei a expressão de Raissa ao terminar a visita. Ela não parava de me contar o impacto que a visita lhe causou. Não é de estranhar, esses túneis infinitos parecem conter o medo e a desesperança dos mais vulneráveis daquela época. Galerias sombrias e úmidas cuja principal função atualmente é não nos fazer esquecer que não há guerra pior do que aquela travada entre irmãos.
Quando olhamos para trás, percebemos o quanto nossa forma de viajar mudou. No início do nosso relacionamento, costumávamos fazer uma lista de todos os lugares que queríamos visitar. Como ponto positivo, esse método nos permitia conhecer os marcos turísticos mais representativos de cada lugar. Por outro lado, começamos a sentir que não estávamos capturando a verdadeira essência do destino. Como solução para o problema, decidimos dedicar mais tempo a passear pelas cidades sem um plano definido. Foi dessa maneira que começamos a perceber a beleza escondida sob a superfície do cotidiano.
Dicas
Horário:
– Segunda-feira: fechado
– De terça-feira a sábado: 9h às 18h
– Domingos e feriados: 9h às 15h
Preço: gratuito
Horário:
– Segunda a sábado: 10h às 14h30 / 16h às 19h.
– Domingo: 15h às 18h
Missas:
– Segunda a sábado: 9h e 20h
– Domingo: 11h30 e 20h
Preço: 6€ (geral) / 4€ (reduzida). Audioguia gratuita com seu ingresso.
Horário:
– Segunda-feira: Fechado
– De terça-feira a sábado: 10h30 às 13h30 / 18h às 21h
– Domingo: 10h30 às 13h30
Preço: 3€ (geral) / 2€ (reduzida)
Venda de ingressos: as visitas são guiadas. Não esqueça de comprar os ingressos com antecedência aqui.
Horário:
– De segunda a quinta-feira: 10h30, 11h30, 19h30 e 20h30
– Sexta-feira e sábado: 10h30, 11h30, 19h30, 20h30 e 21h30
– Domingo: 10h30 e 11h30
Preço: gratuito
* A informação fornecida é baseada em dados recolhidos em setembro de 2023 e está sujeita a possíveis alterações posteriores.
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Uma resposta
Excelente matéria, parabéns!!!
Uma viagem histórica, onde o conhecimento vem a somar com a beleza do lugar.
Breve, desejo conhecer, pessoalmente, a linda Almeria e e suas histórias. 🥰